O Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença inflamatória crônica de causa desconhecida em que há uma participação do sistema imunológico com a formação de autoanticorpos, que podem “agredir” o organismo através de inflamação de múltiplos órgãos e sistemas. É uma doença que até o momento não tem cura, embora o avanço tecnológico farmacêutico nos traga muitas esperanças alentadoras.
É mais frequente em mulheres na época do período fértil que compreende teoricamente da primeira até a última menstruação e, portanto a ação do hormônio sexual feminino chamado estrogênio desempenha um papel no desenvolvimento e recaídas da doença. Estima-se que nesta faixa etária 90% dos casos ocorram em mulheres. Nos períodos da pré e pós menopausa as incidências entre homens e mulheres tendem a se aproximar.
Até o momento não há evidência de que a causa seja psicossomática, a causa é desconhecida. O estresse psíquico de qualquer natureza pode piorar a doença, mas este conceito vale para todas as doenças crônicas, e cada caso deve ser individualizado e a familiarização na relação médico-paciente ajuda nesta abordagem.
Não temos dados do número de casos de LES em nosso meio. Pode-se estimar uma incidência de 0,2 a 0,3% da população.
Até o advento da corticoterapia na década de 1940 não havia tratamento com alguma eficácia para o LES. Até essa época podia-se encontrar como definição de doença fatal de mulher jovem. Tem sido observado que a sobrevida do LES tem melhorado significativamente nas últimas décadas e este fato está associado ao uso de imunossupressores. Pode parecer paradoxal já que o uso de imunossupressores (IS) aumenta o risco de infecção. Há avanços recentes no conhecimento de novos IS além de outra categoria de medicamentos chamados de imunobiológicos, e as perspectivas são muito boas.
O paciente com LES pode manifestar diferentes manifestações na pele, algumas clássicas como asa de borboleta no rosto, o aumento da fotossensibilidade, lesões bolhosas, lesões ulceradas dentre muitas outras.
Há um problema no sistema imunológico, mas este fato não aumenta a chance de alergias, o que ocorre é que a formação de anticorpos, uma parte desses, se volta contra o paciente. É importante ressaltar que nem todos que produzem autoanticorpos desenvolvam doença autoimune.
Quando os autoanticorpos são patogênicos o tipo de lesão que ocorre nos órgãos é uma inflamação, que tem extensão e gravidade variáveis. Um dos órgãos que pode ser afetado pelo LES é o cérebro e, portanto as manifestações neurológicas e psiquiátricas são esperadas em alguns casos.
Doenças autoimunes
A principal função do sistema imune é a defesa contra microorganismos invasores. A organização é semelhante à de um exército, com células especializadas para diferentes funções como neutralizar, mandar mensagem, inibir e matar. Os soldados são os leucócitos e células do sistema mononuclear fagocitário, como macrófago. Existem ainda barreiras naturais (pele, saliva, etc) que se forem vencidas levam a uma outra etapa de defesa que é a inflamação. Caso essa resposta não seja eficiente para resolver o problema o sistema imune utiliza mecanismos mais especializados para proteger o organismo que é a resposta imune específica (linfócitos e autoanticorpos).
As doenças autoimunes sistêmicas têm causa desconhecida e são caracterizadas por envolvimento de vários órgãos e por uma resposta imune específica alterada. Nesses pacientes o sistema imune agride o próprio organismo, levando a disfunção de órgãos ou sistemas. É importante ressaltar que essas doenças não são contagiosas.
O diagnóstico dessas doenças é difícil, pois as manifestações são variáveis, dependem dos órgãos envolvidos e em geral aparecem ao longo do tempo. Entre as principais doenças autoimunes temos:
1) Lúpus Eritematoso Sistêmico é um distúrbio inflamatório crônico e multissistêmico que ocorre predominantemente em mulheres na idade fértil. A pele e articulação são os envolvimentos mais frequentes e os mais graves são rim e sistema nervoso. Outros órgãos e sistemas podem ser acometidos pela doença.
2) Artrite Reumatóide é uma doença que acomete mais a mulher e se caracteriza por artrite simétrica principalmente em mãos, punhos, pés e joelhos que pode levar a destruição progressiva das estruturas articulares resultando em deformidades. Muitas vezes é acompanhada de sintomas sistêmicos.
3) Síndrome de Sjogren é uma doença sistêmica crônica caracterizada pela diminuição de secreção das glândulas mucosas causando secura da boca, olhos e outras mucosas. Faz parte do quadro artrite.
4) Polimiosite de Dermatomiosite são doenças raras caracterizadas por alterações inflamatórias no músculo e pele. As manifestações incluem fraqueza muscular e lesão de pele característica na dermatomiosite.
5) Esclerose Sistêmica é uma doença crônica caracterizada por fibrose difusa, alterações vasculares em pele articulações e órgãos internos. Os sintomas mais comuns são fenômeno de Raynaud, disfagia, espessamento de pele e poliartralgia.
A influência emocional em doenças autoimunes é demonstrada pela ativação ou desencadeamento do quadro em períodos de “stress”, não se conhece, no entanto, o(s) mecanismo(s) envolvido(s) nesse processo. Outros fatores que podem piorar essas doenças são luz ultra-violeta (exposição solar) e infecções virais.
Os medicamentos usados para tratar o LES variam desde analgésicos simples até medicamentos mais fortes como os imunossupressores. O reumatologista é o médico que deve orientar esse tratamento eventualmente recorrendo, em algumas circunstâncias, ao apoio de outras especialidades. Os anti-inflamatórios chamados não-hormonais (diclofenaco, ibuprofen, naproxeno, etc) são frequentemente usados, porem cuidado deve ser tomado devido a eventuais efeitos colaterais como gastrite, úlcera e inflamação renal(nefrite). Seu uso, bem como de todos os outros medicamentos, deve sempre ser orientado por médico, nunca usado por conta própria. O uso dos antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroquina) é extremamente útil no controle das manifestações de pele e articulares da doença.
Outros medicamentos muito usados e úteis, quando orientado por reumatologista, são os anti-inflamatórios chamados hormonais (corticosteroides) Seu uso é muito comum para tratar a atividade da doença e, devido aos potenciais efeitos colaterais (hipertensão, diabetes, osteoporose, aumento de peso, etc, etc, etc…), deve ser usado com orientação do reumatologista por tempo o mais breve possível. Nos casos mais graves ou para reduzir mais rápido os corticosteroides, são utilizados os imunossupressores. Esses medicamentos são usados para diminuir a produção dos anticorpos citados no tópico Definição. Essas drogas têm muitos efeitos colaterais (alergias, infecções graves, etc) e são úteis somente quando o tratamento é orientado por médico, nunca por conta própria. Medidas gerais de orientação de hábitos como parar de fumar, parar de beber álcool, exercícios nos períodos de remissão da doença, dieta saudável, protetores solares são sempre úteis no tratamento. O controle da pressão, dos níveis de colesterol, do stress, da vida sedentária é muito importante.
A sexualidade, mais por fatores psicológicos do que físicos ou medicamentosos, pode estar afetada. Eventualmente, por problemas associados a medicamentos ou à própria doença, pode ocorrer ressecamento de mucosas, inclusive vaginal, prejudicando o ato sexual. Existem cremes hidratantes que podem auxiliar e o paciente deve discutir esse assunto abertamente com o seu médico. Toda alteração de mucosas em órgãos sexuais deve ser comunicada ao médico para um pronto tratamento, muitas vezes com especialista apropriado. Alguns medicamentos, principalmente os imunossupressores podem causar infertilidade ou menopausa precoce. O exemplo desses medicamentos é a ciclofosfamida, devendo o paciente estar ciente. A maioria desses imunossupressores também é prejudicial ao feto. Logo, quando do seu uso, a anticoncepção deve ser feita e somente interrompida com ordem médica.
fonte: http://fertilidadeamaternidade.blogspot.com.br/
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