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sábado, 22 de setembro de 2012

Um presente e um cartão


Outro dia a desesperança bateu lá em casa. Chegou de mansinho, subiu sem ser anunciada pelo porteiro e tocou a campainha. Estranhei. Ela me pegou desprevenido. Estava eu refestelado no sofá após um dia longo e cansativo de trabalho, e até pareceu que ela sabia o momento certo de chegar. Abri a porta e nem tive tempo de oferecer resistência, ela foi entrando e quando percebi estava sentada ao meu lado na penumbra da sala. Começou fazendo perguntas insinuantes e inadequadas para um momento de relaxamento.
De repente suas palavras se transformaram em imagens e comecei a enxergar um caleidoscópio de notícias que passavam tão rápido que uma cena entrava na outra como se tudo fosse uma coisa só. De vez em quando estourava uma espécie de flash com caras e bocas que repetiam um blábláblá vindo de Brasília, gente amontoada em New Orleans, carros incendiados em Paris, protestos populares em vários países asiáticos. A última imagem que me lembro era de Hugo Chavez abraçado com Maradona.
Por um momento acreditei que a desesperança tivesse ido embora, uma vez cumprida sua tarefa de me sufocar no canto da poltrona. Mas foi um silêncio estratégico, como se estivesse esperando as imagens ganharem profundidade em minha consciência. Com voz de sussurro começou a sugerir que não valia a pena… “esqueça, as coisas não vão mudar”, “você não percebe que os problemas são grandes demais?”, “cuide do seu futuro”, “pense no conforto da sua família”, e outras melozidades atraentes. De uma hora para outra eu já não sabia se a voz que eu ouvia era a da desesperança ou da minha consciência. Levantei, esfreguei os olhos para ver se ela ainda estava lá, e aventei a possibilidade de ter cochilado. Mas não. Era ela mesmo. Sua silhueta esfumaçada estava imponente ao meu lado, e sua voz parecia um canto de sereia que deixava a sala num clima bem propício para que eu me acomodasse de vez ao sofá. Antes de sair, sugeriu que eu deveria entregar os pontos e seguir com todas as marias que vão com as outras. Fiquei com a sensação de que, ao sair, a desesperança levara consigo minhas forças. Tudo que consegui fazer foi levantar os olhos e orar a Deus.
Com a chegada do sol na manhã seguinte, a misericórdia de Deus foi me despertar. Trouxe para mim um presente: memórias que me davam esperança. Dentro da caixa, um cartão: “Não desanime meu filho. Seu trabalho não é vão. É através dele que a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar”.
Fonte: IBAB

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